sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

socióloga ou jornalista?

Já tinha lido algumas coisas sobre a ideia de um "duplo" de nós mesmos quando ganhei de aniversário, em 2009, um DVD do Bertolucci que continha o genial filme "Partner". Eu, que me identifico um pouco com muita gente e nunca tinha me identificado totalmente com quase ninguém, lembrei do "duplo" quando a conheci. Quer dizer, não quando a conheci, porque assim de primeira vista eu achei ela bem, bem irritante (claro, podem começar as análises psicanalíticas de por que alguém tão parecida comigo mesma me irritava tanto). Quando a conheci mesmo, e começamos a nos tornar amigas, aí sim: tive certeza de que ela era minha "dupla".

Se eu tivesse escolhido cursar jornalismo, ao invés de Ciências Sociais, acho que eu seria Jeanne Callegari.

Alguns momentos na vida parecem grandes bifurcações. Fazemos algumas escolhas que, quando paramos pra pensar, anos mais tarde, vemos que foram essenciais pra estarmos onde estamos, sermos que somos. Ter escolhido cursar ciências sociais foi uma destas, para mim. E foi só quando a conheci que comecei a pensar: não tinha notado que eu guardava essa curiosidade, de saber o que teria acontecido se eu tivesse estudado jornalismo. Uma curiosidade que eu nunca tive, mas que percebi que tinha tido quando pôde ser, em parte respondida. Eu não sei bem como explicar, mas às vezes tenho certeza de que somos a mesma pessoa.

Tenho outras amigas tão próximas quanto ela, é fato. A diferença é que além da proximidade, da intimidade de amiga, tenho mesmo é uma grande identificação - e, como não posso ignorar meu ego, uma grande admiração também - pela Jeanne. Encontrar com ela é o tipo de coisa que poderia, acho, provocar uma hecatombe no tempo-espaço. As coisas que eu gostaria de ter aprendido e que minha escolha pelas ciências sociais não me permitiu aprender, aprendi com ela, que escolheu o jornalismo. Das histórias dela de adolescência aprendo que ela levou sua punk interior mais a sério, como fiz com minha hippie - mas ambas nos habitavam e habitam ainda hoje. Isso pra não falar no amor pela poesia, que eu sempre tive e a vejo realizar de uma forma que escolho não fazer. Não agora. Pra compensar, tem o amor dela pelas perguntas, pela desconfiança, pela investigação. Jeanne seria uma ótima socióloga, se o destino de sermos "dupla" uma da outra não nos impedisse de sermos a mesma pessoa, o que significa em termos práticos que ela jamais de convencerá a ir pra esta área apesar do fascínio que por ela parece nutrir.

Eu acho que eu até daria uma boa Jeanne.
Quem sabe ela desse uma Marília melhor.

{Há outra coisa que me parece ficar cada vez mais próxima: ela é a Marília que vai ter filhos depois dos 30. Eu, provavelmente, nem tanto. Veremos.}

Hoje pra mim é dia de celebrar este encontro. De comemorar ter na Terra, primeiro, e depois no meu círculo de amizades muito, muito, muito próximas, uma pessoa que é em grande parte uma parte mim que deixei em algum lugar da história. É narcisístico, eu sei. Mas me conforta extremamente. Se o mundo estiver contra mim, eu sei que ela sempre vai entender meu lado. Mesmo quando não concordar (e me der broncas, toques e afins; alguns que só ela consegue, aliás). Eu, o dela.

Ainda bem que Jeanne existe. Fico feliz.

<3 Je <3

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