Se perdeu, leia a parte I aqui. Estes posts foram sugeridos por uma leitora de apelido Miss Little e pretendem ser uma ajuda a quem está pensando em se embrenhar pela experiência de fazer um mestrado. Espero que ajude!
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4. Projeto ou Plano de Estudos
Então você já definiu que quer fazer mestrado, já sabe o por quê, já escolheu o assunto a investigar, o programa (ou os programas) e possíveis orientadores/as. Muito bem. Agora é hora de botar a mão na massa. Ou quase isso.
Pra começar é importante dar uma boa olhada nos requisitos da seleção para o programa ou os programas escolhidos. Embora alguns programas no Brasil e muitos no exterior não peçam projetos de pesquisa, sempre há alguma espécie de carta ou texto ou plano de estudos que deve ser informado. A banca não te conhece e suas intenções precisam estar claras sobre o que é que, afinal de contas, você pretende fazer ali. No caso das seleções que pedem projeto de pesquisa, esta também uma forma dos pesquisadores se interessarem em orientar você, o que é bem importante, diga-se de passagem. Esta elaboração é essencial.
A banca e os pesquisadores precisam ver, no seu projeto de pesquisa ou plano de estudos, algo interessante, viável, e que possa ser adequado ao tempo de um mestrado caso eles julguem que não esteja (e que isso não tem problema; de fato, muitas vezes não tem, mesmo, já que a banca pode ter a noção de lembrar que você nunca fez mestrado antes). No texto do projeto ou do plano de estudos a tal da abordagem (leia na parte I) sobre o assunto de pesquisa precisa também ficar clara. Além disso, também é importante mostrar pra banca que você entende minimamente do que está falando e de que tem uma noção das outras abordagens possíveis, e se mostrar também aberto/a a discutir ou trabalhar com elas (ainda que fazendo um contraponto).
Nessa hora, fazer uma boa pesquisa bibliográfica é fundamental. Escrevi um post com algumas dicas aqui sobre como encontrar bibliografia relevante. Depois de encontrar, é claro, você vai precisar ler essa bibliografia e escrever sobre ela. O importante desse pedaço é tentar botar as coisas que você leu em relação umas com as outras, de forma mais geral, e não somente ficar explicando o que cada autor ou obra disse e deixou de dizer. Está aí o primeiro desafio real.
Escrever esse projeto de pesquisa não é fácil. Provavelmente depois que você entrar no mestrado ainda vai mudar o projeto, revisar, refazer, reescrever, etc. Não fique incomodado/a, é assim com a grande maioria das pessoas. Eu passei meio ano refazendo meu projeto quando entrei no mestrado. Ainda bem, pois não teria conseguido a bolsa FAPESP sem ter trabalhado tanto sobre ele. Ao mesmo tempo, refazer o projeto ajuda a ter uma visão cada vez mais clara do que é que você vai fazer, afinal.
Invista tempo no projeto de pesquisa antes e depois do processo seletivo, que ele é bem importante. Se tiver amigos ou amigas que estudam ou trabalham na mesma área peça para que leiam, comentem, apontem incoerências, erros. Se tiver amigues jornalistas, revisores, etc., peça para que dêem uma ajuda com o texto. Mude, revise, refaça, acate sugestões pertinentes, agradeça mas ignore aquelas que não forem tão pertinentes. Tente lapidar o quanto conseguir o projeto. É difícil, mas é possível, eu juro.
5. Processo seletivo, provas, entrevistas
Com o projeto bonitinho em mãos, e já inscrito/a na seleção, é importante se atentar para o funcionamento deste processo. Se você está aplicando para mais de um programa, pode ser uma boa olhar diferenças entre eles no que diz respeito à seleção. Examine os editais e veja os critérios de avaliação para todas as etapas.
Os editais, porém, dão uma ideia parcial de como é o processo seletivo. Há algumas sutilezas que nem sempre os editais mostram. Quase nunca, na verdade. O tipo de questão que contém as provas, por exemplo. Ou o que perguntam na entrevista. Como são os professores da banca. Tantas coisas que te ajudariam se você soubesse...
... por isso outra dica é conversar com alguém que já tenha feito esse processo, pra saber qual é o rolê. Como foi, o que a pessoa percebeu que contou a seu favor, o que ela teria feito diferente, etc. Faça uma entrevista completa com seus amigos e amigas, porque vale a pena. Informação ajuda nessa hora, e muito.
6. Bolsa
Este é um ponto a se considerar antes, durante e depois da seleção do programa de mestrado dos seus sonhos. Dedicar-se exclusiva e totalmente à pesquisa é uma delícia, mas pra isso em geral é preciso uma bolsa. As faculdades e institutos de universidades federais e estaduais, em geral, recebem um número X de bolsas do CNPq e da CAPES e distribuem conforme os critérios que acham melhor. Algumas fazem ranking da seleção e os primeiros recebem bolsa, outras selecionam o número de alunos igual ao número de bolsas e todo mundo que entra recebe bolsa, outras fazem sorteio, outras usam critério socioeconômico. Enfim. Cabe ao programa definir a atribuição de bolsas. Dê uma investigada nisso e se prepare pra mandar papelada, etc. Esteja alerta.
Em alguns estados (como São Paulo) outras agências financiadoras (como a FAPESP) também dão bolsas de pesquisa, diretamente concedidas ao orientador/a e ao mestrando ou à mestranda. Em geral existe um processo seletivo paralelo e vale a pena dar uma boa pesquisada e, depois de aprovado/a, conversar com o/a orientador/a pra acertar ponteiros também sobre isso. Bolsas FAPESP merecem um post à parte, no futuro.
7. Fuçar, fuçar, fuçar
Em suma, a dica é: se informe muito. Muito mesmo. Até o talo. Chafurde na informação. Use e abuse da internet pra isso. Visite os sites dos programas, dos departamentos, leia currículos Lattes, busque artigos no Scielo e no Google Acadêmico, converse com pessoas. Tudo que você puder saber vai ajudar muito!
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Com esta parte II encerro a série "Quero fazer mestrado. E agora?". Mais sugestões de posts serão muito bem aceitas; peço que usem a caixa de comentários ou meu email para isso. Me dêem, por favor, um feedback: ajudei em alguma coisa?