quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

acesso à rua e a cerca mágica

Embora para muita gente esta não seja sequer uma questão a ser discutida, eu entrei em conflito inúmeras vezes sobre restringir o acesso de meus gatos à rua ou não. Vale dizer que eu moro num bairro com bastante áreas verdes, praticamente inteiro de casas térreas e alguns sobrados, numa rua em que passam poucos carros. Quando mudamos para cá, optamos pelo local por causa de preço, mas também por ser uma casa e não um apartamento. Eu confesso que não gostava da ideia de gato em apartamento. Sempre tive animais em casas e percebia como eles amavam o espaço, os quintais, etc. Me apertava o peito pensar em gatinhos fechados num apê. Só que.

Há dois anos, quando mudamos para cá, tínhamos uma gata, a Mafalda, e um de seus filhotes, o Hobbes. Nestes dois anos, outros 12 gatos passaram por aqui. Isso mesmo: em dois anos foram 14 gatos. Catorze. Destes catorze, 2 foram roubados. A Mafalda foi envenenada. A Papaguena apanhou na rua (sim, de uma pessoa) e nunca mais saiu de casa. A Gertrude foi sequestrada (vocês nem imaginam, qualquer hora conto essa história). De 14 gatos, então, 5 sofreram na rua, 6 conseguimos achar quem adotasse, 2 nós adotamos temporariamente (Basquiat e Ganache) porque foram abandonados, e apenas o Berlioz, em 14 gatos, nunca teve problemas sérios em relação à rua. Ainda.

Quando vejo máquinas operando nos terrenos baldios, em frente à minha casa, tenho medo. Quando vejo morcegos meio tontos, de dia, voando pelas mangueiras, tenho medo. Às vezes escutamos na rua algum gato gritando de medo. Às vezes escutamos pessoas assustando gatos na rua de baixo. Uma vez o Alê viu, voltando do ponto de ônibus, uma molecada em um carro ~brincando~ de fingir que iam atropelar nossa gata, acelerando em cima dela. No inverno, já saímos de madrugada procurando um dos nossos gatos, com medo de que eles dormissem no motor de alguém e acordassem tarde demais.

Ao mesmo tempo, a forma como é o nosso quintal, no começo, representava um desafio. Não queríamos (e sairia bem caro) cobrir o quintal inteiro com redes de proteção. Os muros são fáceis de serem alcançados, então mesmo que botássemos tela no portão, ou um portão no corredor (moramos numa casa de fundos), eles ainda conseguiriam sair. Até que, um belo dia, começamos a assistir um programa de TV chamado "My Cat From Hell".

Neste programa, o host, que é especialista em comportamento felino, Jackson Galaxy, faz as vezes de supernanny e visita a casa das pessoas pra ajudá-las a resolver problemas com seus bichanos. Tem de tudo: problemas de adaptação de uns gatos com outros, gatos com ciúmes de namoradxs, gente que bateu no gato e o gato se revoltou, gato mijando pela casa toda, ___________ [inclua aqui seu problema com gatos]. Pois num dos casos, o gato saía de casa e passeava na casa dos vizinhos. Como ele era ~meio~ agressivo, não era uma coisa lá muito bacana. A família não queria (ou não podia) telar um certo muro. Então Galaxy sugeriu uma coisa da qual eu nunca tinha ouvido falar: uma cerca a 45º em cima do muro. Nos EUA eles chamam isso de "cat-proof fence", ou "cerca à prova de gato".

Parece que, quando tem uma cerca a 45º em cima de um muro, mureta, etc., os bichanos olham aquilo de baixo e têm a impressão de que vai cair sobre eles. Aí se afastam e não sobem. Parece mágica; vejam a partir de 04'07'':




Era essa a nossa solução!

O primeiro passo foi tentar ver como contratar um serviço pra fazer isso no muro todo aqui de casa. A primeira empresa que contatei não faria isto, apenas cobriria o quintal todo, por um preço absurdo e demoraria pelo menos 30 dias. Contatei uma segunda. Daí que o serviço da segunda empresa tem a assessoria de um serralheiro, e assim finalmente conseguimos um orçamento bom, num serviço exatamente como queremos e... pra hoje! Sim, o prestador de serviço já está aqui em casa, fazendo os primeiros furos, e o serralheiro deve vir esta semana ou na próxima. Viva!

É claro que o lance de restringir os bichanos aqui em casa tem alguns lados negativos, como precisarmos de 4 a 5 caixas de areia, com cuidados diários com cada uma delas. Assim como aumentar o território verticalmente (falei sobre isso, aqui). 

Mas meus pitoquinhos estarão seguros. Nada de sair de madrugada balançando potinho de ração depois de ouvir gatos berrando na rua. Tem recompensa melhor que essa? :)

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UPDATE [do fim do dia]:

Uma parte da rede já está instalada! Agora é esperar o serralheiro fazer as estacas de metal a 45º pro moço da rede instalar no outro muro. Esse pedaço que vocês estão vendo aberto, num corredor, terá um portão, também telado,  para que os tchutchucos realmente não consigam sair. Vamos que vamos!

Ficou assim, até agora.
Aí na foto da esquerda mostra direitinho onde vai encaixar um portão.
Bichanos seguros = <3

Sras e Srs, com vocês, minha defesa!

Parece então que é chegada (quase) a hora; no dia 25/02 vou defender meu mestrado. Em um mês terei praticamente terminado essa aventura, esse empreendimento que foi o mestrado. Animada, com perspectivas de fazer o doutorado logo. Feliz de ter conseguido.

O momento é importante e convido a acompanharem minha defesa, se puderem. Tentarei transmitir pela internet, mas não garanto que isso vá acontecer. Veremos.



domingo, 27 de janeiro de 2013

território e espaço

Não, isto não é uma aula de geografia. Mas poderia ser. Geopolítica, talvez. A Geopolítica felina da minha casinha de fundos. Um assunto e tanto nas últimas semanas. Primeiro, porque chegando da viagem de ano-novo descobrimos um novo habitante aqui, o Basquiat. Depois, porque com uma semana de Basquiat e os nossos três primeiros gatos começando a se acostumarem com ele, recebemos mais um felino aqui. Isso; senhoras e senhores, agora estamos com cinco gatos na casa. Cinco.

Novo morador, para adoção
(me contatem se interessa!)
Nossa casa não é lá muito grande. Temos um quarto (onde cabe a cama, o guarda-roupa e uma cômoda), um escritório, uma sala pequena, uma cozinha razoável, areazinha de serviço, quintal cimentado, espaço pra guardar um carro. Pra duas pessoas é tranquilo. Pra duas pessoas e três gatos, também. Com o quarto gato começou a ficar apertado. Agora está além do limite.

Fato é que estamos buscando um novo lar pro Basquiat e pra esse outro gato que a gente ainda nem nomeou na esperança de alguém adotar. Mas fato é também que sabemos que, como são ambos adultos, há poucas chances de alguém querer adotá-los. Basquiat, que é preto, muito menos. O lindinho da pelagem marrom ainda tem esse apelo: gatos castanhos não são tão comuns no Brasil. Enquanto ninguém se dispõe a cuidar deles para o resto da vida, nós o fazemos. Então, se tudo mais falhar, temos cinco gatos. Eita.

Os bichanos são extremamente territoriais. O bom é que no livro legal que ando lendo (este aqui), a autora dá dicas preciosas para lares "multigatos". Basicamente ela ensina o que fazer para promover uma vida agradável na "colônia" felina (descobri que se chama assim; não é fofo?). Bom, acontece que a colônia felina aqui de casa não anda lá muito em paz. Pelo simples motivo de que não há espaço suficiente. Felizmente, a autora do livro explica também que para os gatos, o território é multidimensional. Isso quer dizer que acrescentar níveis verticais seria o mesmo do que construir mais cômodos para nós. Bingo!

Estamos planejando algumas prateleiras especiais para gatos aqui em casa: prateleiras comuns, de madeira, pregadas em forma de escadinhas, e forradas com carpete. Faremos uma do lado de fora, uma no escritório e outra no canto da sala. Três lugares onde eles podem olhar pra fora e vigiar o espaço deles. Também estamos avaliando a possibilidade de uma passarelinha ligada a uma das escadas (com outra escada na ponta), para que eles passeiem por cima da gente - e uns dos outros.

Além disso, tem as mudanças que estamos planejando no nosso espaço. O primeiro passo já foi dado: comprei hoje, pela internet, um rack de TV e um balcão pra cozinha. O próximo passo é uma furadeira (claro), que deve ser comprada amanhã. Aí vem as prateleiras, armários para o quarto, armário para a sala, escritório e afins. Tapete pra acolchoar as prateleiras dos felinos. Uma boa mão de tinta do lado de fora, e uma cat-proof-fence que ainda estamos elaborando.

Aguardem notícias! ;)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Livros para dar e vender. Só que não.

Cheguei. Foi duro admitir, mas cheguei, enfim, no meu limite. Simplesmente não dá mais pra comprar livros.

Como todxs (ou muitxs) acadêmicxs, eu amo livros. Amo lê-los, amo folheá-los, amo relê-los, amo estar rodeada deles. É claro que tem um elemento fetichista forte aí, já que eu poderia fazer como algumas pessoas que conheço e doar um monte dos livros que tenho. Só que não. Não poderia. Muita gente compra livros pra "ver qual é"; eu compro livros que me interessam muito. O problema é que tanta coisa me interessa muito, que eu acabei perdendo a medida da coisa.

Além dos livros "de trabalho", ou seja, aqueles de sociologia, antropologia, educação, etc., no ano passado acumulei uma boa biblioteca de literatura e poesia. O problema é que só partes dela foram lidas. Algumas partes de alguns livros e outros livros inteiros e outros dos quais eu tinha até me esquecido (!). Arrumando a livraiada no domingo foi que eu vi que meu limite chegou. Não são poucos os livros que tenho e, se contar aqueles que tenho em versão digital, no kindle, são ainda mais (e agradeço à deusa tecnologia por me permitir guardar quase 50 livros em poucos centímetros cúbicos). Uma parte da biblioteca digital também foi lida apenas parcialmente.

Resolvi dar um basta.
Não compro mais nenhum livro até que tenha lido tudo que tenho em casa.

(e parece que finalmente achei duas resoluções de ano-novo com cara de resoluções de ano-novo: não comprar livros, em primeiro lugar, e ler todos os livros que eu tenho, em segundo)


(também acho que a única exceção que abrirei são quadrinhos; eles são irresistíveis e, por outro lado, jamais ficam sem ser lidos)


O negócio é fazer uma lista e escolher o que quero ler antes e depois. Vou fazer um cronograma de leitura do ano. Vamos ver se eu consigo. E vocês, compreendem essa compulsão?

:)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Francisco

Meu sonho sempre foi um gato todo preto, mas quem apareceu na minha vida foi você. Pequenininho, estabanado e irrequieto, como bom filhote, Francisco parecia ser o nome perfeito pra você.

Mentira: escolhi seu nome em homenagem ao Chico Buarque, um dos meus compositores preferidos, aquele que compôs uma música em minha homenagem (cof cof!). Se você fosse preto, seria Magal.

Você aprontou muito quando filhote: destruiu um sofá de 3 lugares, junto com sua irmã! Aliás, você sempre foi um ótimo e atencioso irmão mais velho: sempre que sua irmã miava, por qualquer motivo, você se colocava a postos para defendê-la de quem quer que fosse. Ainda que o inimigo fosse a gata da minha mãe!

Você dorme esparramado na minha cama, esconde brinquedos em lugares improváveis e adora brincar de jogar bolinhas de alumínio, até hoje, aos seis anos de idade.

Dizem que os gatos deixam de brincar com o passar dos anos.... ainda bem que você continua sendo meu filhotão!

O gato mais branco

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Getrude, a 'undercat'

"Underdog" é um termo em inglês para falar de quem 'está por baixo', é 'renegado', e daí em diante. Então essa semana eu comecei a ler "Cat vs Cat", da Pam Johnson-Bennet (R$42 na Livraria Cultura, em inglês) e descobri quem é o "undercat" aqui em casa. A ideia do livro é ajudar cuidadores/tutores que têm vários gatos em casa a compreender como funciona o relacionamento entre eles, e como lidar com isso no dia-a-dia. A primeiríssima coisa que ela aborda no livro é justamente a hierarquia entre os gatos.

minha 'undercat'
A gente (marido e eu) sabia que os gatos têm sua própria hierarquia, que ela muitas vezes não é fixa, e que há disputas constantes por isso. Até aí, tudo bem. Lendo o começo do livro, porém, eu comecei a perceber que minhas ideias sobre como identificar a posição dos gatos na hierarquia é que estavam bem equivocadas.

Nossa gata mais velha, Gertrude, sempre gostou muito de ficar fora de casa, passear (esse assunto de deixar os gatos saírem de casa merece um post exclusivo, então vou passar ele batido agora, mas aguardem). Ela tem uma relação aparentemente amigável com a Papaguena. As duas se lambem, dormem juntas, etc. Ela chia mesmo é pro Berlioz, que é filhote dela. Basta ele chegar perto, nem precisa fazer nada, que ela chia, dá patadinhas, às vezes rosna. Sempre foi assim, desde que um pouco depois de ele ter desmamado... Ah, vale dizer que os três são castrados.

Na minha cabeça, ela estava no topo da hierarquia, afinal de contas ela batia nos outros sem sofrer nenhuma retaliação, era a mais agressiva/esquentadinha, etc. Até que descobri (obrigada, Pam!) que na verdade a agressividade muitas vezes indica justamente que aquele gato está abaixo dos outros na hierarquia. Comecei a perceber outros sinais da posição rebaixada que a Gertrude ocupa entre a 'colônia' (é assim que chamam em inglês o grupo de gatos): ela fica longe porque não sente que o espaço da casa é dela; ela só vem comer depois que os outros gatos comeram, ficando com as sobras; ela evita os outros gatos; quando está no quarto, procura cantos escondidos; e por aí vamos.

Começamos essa semana uma terapia intensiva pra devolver a autoestima à Gertrude, na esperança de que ela não se sinta ameaçada pelos outros gatos, mesmo que continue a ocupar uma posição inferior na hierarquia (convenhamos, algum deles sempre terá de ocupá-la). O primeiro passo foi limitar o acesso do Basquiat e do Berlioz ao nosso quarto, que sempre foi o canto preferido dela na casa. Deixamos a Papaguena entrar menos, mas deixamos um pouco, porque a Gertrude não costuma se incomodar com ela. Ao mesmo tempo, deixamos apenas a janela aberta durante o dia, e fechamos a Gertrude pra dormir conosco durante a noite, numa almofada nova especial que compramos só pra ela. Ela fica ao lado da nossa cama. Se eu decido trabalhar no quarto, boto a almofada na cama e ela fica lá comigo. A Papaguena também ganhou uma almofada pra quando estiver lá.

Tenho percebido alguns efeitos disso, já. Pra começar, só nos três dias em que estamos fazendo isso, a Gertrude tem ficado mais tempo em casa. Quando sai, é rapidinho, dá um rolê e volta. Ela está relaxada no quarto, mesmo com a Papaguena do lado. Também voltou a procurar lugares mais altos pra ficar (e eu vou resolver isso em breve, comprando uma furadeira e umas prateleiras), o que indica que ela já está mais à vontade no espaço, não fica querendo 'se esconder' o tempo todo, como estava depois que o Basquiat chegou em casa.

Vamos seguir acompanhando, e posto as novidades aqui. Conforme for lendo o livro, mais ideias também vão surgir e continuarei na minha mirabolante missão de ter um lar feliz com quatro gatos e pouco dinheiro. :)

Até mais!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

idiomas, pra que vos quero

Então este ano parece que eu vou mesmo estudar árabe. Árabe! As pessoas me olham encafifadas: afinal, para que estudar árabe? Estuda-se inglês, em geral, para "se comunicar com todo mundo", dizem por aí que é a tal "língua global". Estuda-se espanhol, em geral, para "se comunicar no mercado de trabalho com o mercosul". Alguns estudam francês por puro capricho, outros por necessidades de trabalho e acadêmicas. Mas e o árabe?

Ao contrário do que pode parecer pensando no senso comum, falando apenas inglês como segunda língua não somos capazes de nos comunicar com quase ninguém. Na verdade, somos capazes de nos comunicar em vários países, mas apenas com a pequena parcela de suas populações que foram educadas com o inglês como língua estrangeira (em alguns também como língua oficial). Bastou minha primeira saída do país, em 2005, para a Tunísia, para desmantelar esse conto. Foi mais fácil achar tunisianos que falassem espanhol, na época, do que inglês. Alguns anos depois, na Inglaterra, fiz amizade com um grupo de italianos que praticamente não falava (ou falava muito pouco) inglês. No ano seguinte a isto, na Coréia do Sul, idem: os coreanos mais jovens compreendiam o que eu falava, mas muitos não sabiam falar. Vejam só.

Aprender um idioma não é apenas uma questão de conhecimento do idioma e de uma certa cultura a ele associada. É uma questão muito mais ampla de acesso a todo um conhecimento produzido excluisvamente naquele idioma. Vejam bem; minha amiga que estuda teoria crítica não pode se furtar a aprender o alemão. Não tem nada a ver com o fato de traduções 'perderem' ou não sentidos originais, mas com o fato de que muita coisa simplesmente não foi traduzida, ou então as traduções são proprietárias e os originais já não têm direitos autorais (em alguns casos). É assim com o inglês.

Percebo, no cotidiano acadêmico, a diferença que faz o domínio de idiomas estrangeiros para a própria qualidade e amplitude da pesquisa bibliográfica que embasa projetos de pesquisa, artigos, etc. Com acesso apenas ao que foi publicado em português, limita-se diálogo e alcance das conclusões de pesquisa, e às vezes limita-se acesso a dados também. Sem falar na produção de excelentes artigos, em especial no caso dos periódicos especializados em inglês ou francês (cito estes porque são os que melhor conheço), que jamais serão traduzidos salvo raríssimas exceções.

Sabendo inglês, francês e espanhol com certa fluência;
considerando que não estudo nenhum país de língua árabe ou cultura predominantemente árabe;
considerando que a produção em árabe pra minha área de estudos não é über-relevante;
então, por que raios desejo aprender árabe?

Aí é que está. Dominando inglês, francês e espanhol, cubro as necessidades práticas da minha carreira. Quase todas, até onde tenho percebido. Me dou ao luxo, então, de escolher acessar um outro tipo de conhecimento e informação, que talvez nem seja diretamente útil para meu trabalho: a cultura e a política. Quero aprender árabe para ler literatura árabe sem depender do crivo mercadológico ocidental das editoras que os publicam em inglês, espanhol, francês e português. Quero aprender árabe para ter acesso a filmes para os quais nunca foram feitas legendas. Para obter informações diretas de países árabes sobre sua própria situação política, econômica, social, sem a edição dos jornalhões e agências de notícias 'internacionais' ou 'globais' (que na prática são dois nomes para 'ocidentais'/'euroamericanas'/etc).

Pelo mesmo motivo, a língua que se segue ao árabe em minha lista de desejos é o chinês/mandarim. Depois dela, o russo, ou o swahili. Isto cobre, creio, grande parte dos países em que há conhecimentos específicos, pontos de vista, elementos culturais absolutamente ignorados pelo olhar dos editores 'ocidentais' ou 'internacionais'.


Vou estudar árabe porque eu quero saber por mim mesma.
Saber o quê?
Tudo. Ou o máximo possível.

um pouco de história

Confesso que acho gatos de raça lindos, em especial os Bengal, Maine Coon, Siameses. Confesso também, porém, que me incomoda muito a ideia de fazer disso um negócio: os gatis. Me incomoda a ideia de comprar um animal de estimação. Para mim, os animais de estimação sempre foram presentes da vida. Gatos, em especial. Eles escolhem viver comigo e eu, se posso, aceito cuidar deles.

Meus quatro gatos vieram com a vida. Quando conheci meu marido ele tinha uma gata, a Mafalda, que estava prestes a ter sua primeira ninhada. Desta ninhada sobraram dois gatinhos, dos quais cuidamos, mas que foram assassinados por vizinhos. Muito triste. Na segunda ninhada da Mafalda (sim, vacilamos com a castração na época), vieram o [Thomas] Hobbes, a Gertrude [Stein] e a Hannah [Arednt] (que depois foi rebatizada). Ficamos com o Hobbes, demos a Gertrude e a Hannah para dois amigos que queriam adotar. Infelizmente a Hannah sumiu e nem chegou a ir para a casa desse amigo. Continuávamos com a Mafalda.

Primeira ninhada da Mafalda:
Mindaugas e Tchorni
Mindaugas <3


Mafalda e a segunda ninhada:
Hobbes, Gertrude, Hannah
Hobbes <3


Gertrude, quando era um neném <3

Mudamos de casa, nos casamos. Acostumamos Mafalda e Hobbes com o novo ambiente. A amiga que adotou a Gertrude ia se mudar para uma outra casa, e não poderia levar a gata. Re-adotamos Gertrude. A certa altura do campeonato, levaram Hobbes embora. Ficamos realmente chateados, ainda não tínhamos aprendido o truque mágico da cerca a 45º e do jeito que nossa casa é construída, mesmo com telas os gatos ainda poderiam escapar. Cuidamos das duas, mãe e filha.

Mafalda era siamesinha de cara escura; Gertrude siamesinha branca e cinza. Um dia volto de uma reunião e vejo virem, miando, de longe, uma gata siamesa e um filhote branquinho. Parecia que eu tinha voltado no tempo. Acolhi o filhote e, quando abro a porta do escritório, lá está outro filhote, rajadinho. Meu marido havia encontrado a gata com a ninhada e pegado um dos filhotes, pra adotarmos no lugar do Hobbes, que também era todo tigrado. Deixei a gata entrar pra dar de mamar aos dois pequenos, depois coloquei-a para fora. De repente escuto um miadinho na porta de casa. Era ela, com um terceiro filhote. Deixei ela entrar e levar o filhote para onde estavam os outros, enquanto Mafalda e Gertrude estavam fechadas em outro quarto. Ela deu de mamar novamente e saiu. Mais alguns minutos, outro miadinho. Ela vinha com o quarto filhote na boca. E escutei, olhei para o lado: havia um quinto, saindo debaixo da minha máquina de lavar. Pronto, eu tinha aceitado, sem querer, cuidar da gata e da ninhada, e achar potenciais donos.

Nessa época, a hora da bóia era assim aqui em casa...
(o Mignon era o único que já tinha sido adotado)

Eu, Ludovica e Papaguena
O filhote branquinho foi o primeiro, e ganhou o nome de Mignon, foi morar em São Paulo na badalada região da Avenida Paulista. Em seguida foi a gata-mãe e um dos filhotes rajados, que continuaram no bairro onde moro, mas um pouco distantes. Sobraram dois gatinhos machos. Passaram-se uns meses, e o veterinário 'novo' nos disse que, na verdade, eram fêmeas. Assim, [Pierre] Bourdieu e Ludovico [Beethoven] se tornaram Papaguena e Ludovica. Alguém pouco depois levou a Ludovica e ficamos com Mafalda, Gertrude e Papaguena.

Mafalda é um caso à parte, que me traz na memória muito arrependimento de coisas que fizemos de errado ao deixar a gata entrar com a ninhada. No fim das contas ela mudou de casa, embora viesse nos visitar. Depois de um tempo foi envenenada. Chorei muito, errei muito com ela. Este é assunto pra outro post.

Gertrude mamãe, carregando Berlioz
Quando íamos castrar Gertrude e Papaguena (Mafalda já era castrada), descobrimos que Gertrude estava grávida. Vieram três filhotes: chamamos o machinho tigrado de [Hector] Berlioz, e não demos nome às duas fêmeas pretinhas, que teriam de ser adotadas. Minha irmã adotou uma delas, a Selina, e uma ex-colega de trabalho adotou a outra, que foi provisoriamente chamada de Pantera.



Resumo da ópera: ficamos com Gertrude, Papaguena e Berlioz.
Até a semana passada.

Chegamos de viagem e descobrimos que nossa casa tinha um novo habitante. Depois de descobrirmos que ele não tinha casa - talvez tenha sido abandonado pelos donos em mudança, talvez tenha sido largado aqui; não sabemos - batizamos de [Jean-Michel] Basquiat. E agora, de repente, temos quatro gatos. Todos presentinhos que a vida me deu e eu aceitei. Gatos que carregam histórias, minhas e deles mesmos. Gatos que vocês vão acompanhar ao longo da existência desse blog.

Eu & meus gatos

Minha casa tinha, até a semana passada, cinco moradores: meu marido, eu, Gertrude (nossa gata mais velha), Papaguena (nossa segunda gata mais velha) e Berlioz (o caçula). Chegamos de viagem e encontramos um gato novo morando aqui. Nos adotou. Não é de nenhum vizinho e simplesmente não vai a lugar nenhum, não fica na rua. Decidimos cuidar dele, e batizamos de Basquiat.

(Hector) Berlioz
Eu, que sempre amei gatos, me dei conta de que talvez esta seja a quantidade-limite de gatos que podemos abrigar em nossa casa. Comecei a achar também que eu estava fazendo um papel de cuidadora que podia ser melhorado: posso mexer no espaço, posso aprender mais sobre gatos, posso, posso, posso... Resolvi tomar minha paixão por gatos, pela casa, pela comida, como hobby. Já mantinha um álbum no Facebook chamado "Gatinhas & Cozinhas", que na verdade são meus hobbies.
Papaguena

Trabalho em casa e não tenho filhos, então divido meu tempo entre trabalho, gatos, e projetos mirabolantes para minha casa. Também uso meu tempo livre pra ler, assistir alguns seriados e filmes, jogar alguns videogames e escrever em blogs (edito o Mulher Alternativa, do qual fui a única autora por bastante tempo, e mantenho o Como Ser Acadêmica), sites (tento escrever quando dá no Outras Palavras), revistas (às vezes publico alguma coisa na Vida Simples), e me envolver em ativismo feminista. Falando assim, parece que meu dia tem 250 horas, mas não se enganem. O ritmo de postagem e publicação nestes veículos acaba não sendo tão intenso, em prol da minha sanidade mental.

Gertrude (Stein)
Moro numa casinha de fundos num distrito da cidade de Campinas, no interior paulistano. Como vocês podem imaginar, não tenho grana sobrando e foi justamente isso que me motivou a começar este blog. Este blog é parte de um projeto que pretendo executar pra minha vida em 2013: um faça-você-mesmo generalizado em relação à minha casa e aos meus gatos (quando possível) e, na maior parte do tempo, também em relação á alimentação. Já venho botando isso mais ou menos em prática e decidi curtir um pouco mais essa onda.

(Jean-Michel) Basquiat
O fato é que todos os sites e blogs que eu encontro sobre criação de gatos, ou cuidados com gatos - exceto alguns de militantes da causa animal e ONGs de gateiros - dão dicas e propõem coisas que eu simplesmente não tenho grana pra fazer, às vezes com um gato, que dirá com quatro. No entanto, estou descobrindo que é possível sim cuidar dos felinos com bastante dedicação, fazendo a coisa certa, sem precisar ter tanta grana. Há alternativas e, claro, cada um/a sabe o que 'muitos gatos' significa para o espaço onde vive e as condições que tem para cuidar. No meu caso, acho que são estes quatro. Para uma amiga, devem ser os sete dela. Para outra, um ou dois. Assim vamos.

Sejam mais que vem-vindes a essa minha jornada!



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

medo de plágio

Confessei a vocês no Facebook outro dia: eu tenho medo de plágio. Costumo querer escrever sobre várias coisas aqui no blog e me auto-censuro, pois não quero revelar dados da minha pesquisa, nem pedaços do meu projeto de doutorado, e ver isso vazando nas mãos de gente pouco ética. Nem sempre fui assim.

Antes eu não acreditava muito nisso de plágio nas ciências humanas, afinal o que está em jogo são as análises e as pessoas podem até ter os dados mas não fazerem a mesma análise, etc. Só que. Um dia. Um belo dia. Uma amiga me contou de uma pessoa que plagiava o trabalho dela. Como? Pegando os dados mais preciosos que ela tinha - com muito suor - obtido, suas entrevistas de pesquisa, e colocando em seus papers e trabalhos. As análises também eram pura cópia. Pois então.

Certa vez um outro amigo, da computação, me disse que quando ele conseguia dados e análises legais, ele ia lá e postava no blog dele, assim, público. Eu estranhei, e perguntei 'comoassimBial?'. Ele explicou que, postando em algum lugar público, era mais fácil de ele provar, caso precisasse, que tinha chegado naqueles resultados primeiro. É claro que alguém poderia ver um paper, alterar data, sei lá. Mas ele, que é da computação, achava isso mais seguro.

Eu tenho minhas dúvidas. Realmente plágio é um incômodo grande demais. Você tem o maior trabalho de fazer uma pesquisa cientificamente rigorosa, colher e analisar dados de uma maneira inovadora, e vem alguém tomando teu crédito por isso? Nananinanão. Na carreira acadêmica o maior bem que temos, como pesquisadores, é nosso nome e a trajetória associada a ele. Mesmo que o conhecimento vá ser partilhado, se torna público, dissemine-se, etc. Os créditos serão dados, e isso é o que precisamos. Pelo mesmo motivo tanta gente se sente incomodada quando alguém sai como 'coautor' de artigo sem ter de fato trabalhado na pesquisa que gerou o artigo: não é justo com quem trabalhou. Não é ético, assim como não o é o plágio.

Evidente, há casos de gente que plagia sem saber. Por isso, aviso: citem. Citem. Citem. Sempre. Explicitem suas fontes. Pega muito, mas muito mal se não estiver tudo muito bem explicadinho.

(mas vejam pelo lado bom: estou prestes a defender o mestrado, isso quer dizer que em alguns poucos meses vocês já conhecerão um pouco mais do meu trabalho!)