sábado, 29 de dezembro de 2012

resolução de ano-novo

postei minhas resoluções de ano novo no facebook. pensei nas coisas que tenho e nas coisas que ainda não tenho, mas que gostaria muito mesmo de ter. sempre achei que não valia, nessas listas, incluir a cláusula "manter o que já tenho de bom", então pra mim ela está sempre implícita. ou seja. as resoluções de ano novo que faço são, em geral, o que mais eu quero conquistar, além do que já tenho.

e disse lá:

1. defender o mestrado com sucesso
2. continuar fazendo pesquisa depois disso
3. passar na seleção do doutorado

fim. três resoluções, que eu também não sou fã de me frustrar no final do ano que vem lendo uma lista quilométrica de coisas que eu não criei condições para que acontecessem. então estão aí minhas resoluções; resoluções pelas quais tenho trabalhado nos últimos três anos da minha vida; resoluções que criei condições para que aconteçam. não são dadas, porém, mas são minhas três metas.

daí que uma amiga comentou que ué, você só tem resoluções profissionais? hmm. é. acho que sim. ela me deu alguns exemplos de coisas que eu poderia incluir, como viajar mais ou conhecer lugares novos. hmm. não. acho que não. eu viajo com certa frequência que me agrada (e conheço quem ame a vida de viajar muito, mas muito mesmo, a trabalho; só que essa pessoa não sou eu; eu gosto de ter minha casa, de ficar nela, de cuidar, curtir; gosto de ver amigues com regularidade, de conviver com a minha família e com a família do marido. quem diria, euzinha. pois é). conheço bastante lugares e os que estão próximos na lista não serão para o ano que vem. ou quem sabe. mas definitivamete não é uma prioridade que eu os conheça assim, logo.

então me lembrei de que quero começar a aprender árabe. o plano é estar quase fluente ou fluente em cinco anos. acontece que nem mesmo essa é uma resolução. por quê? oras, porque eu já tomei essa decisão, já fucei escolas de idiomas e preços. a matrícula é uma questão de tempo. eu quero, eu me organizei já pra fazer, eu vou fazer. ponto.

por outro lado, as resoluçõezinhas ali em cima estão mais ou menos na mesma vibe, exceto pela seleção do doutorado, que nem projeto eu tenho ainda. ou quase isso, se a ideia contar.

no fim das contas, me parece que eu não tenho exatamente resoluções de ano-novo. o marco do calendário é burocrático, arbitrário. sigo sem ele e já havia tomado estas decisões há tempos. é que elas vão acontecer só em 2013, ao que tudo indica.

por isso prefiro outro nome:
expectativas.

as resoluções são o ano inteiro. para o réveillon eu fico é com a expectativa.

feliz ano novo!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

socióloga ou jornalista?

Já tinha lido algumas coisas sobre a ideia de um "duplo" de nós mesmos quando ganhei de aniversário, em 2009, um DVD do Bertolucci que continha o genial filme "Partner". Eu, que me identifico um pouco com muita gente e nunca tinha me identificado totalmente com quase ninguém, lembrei do "duplo" quando a conheci. Quer dizer, não quando a conheci, porque assim de primeira vista eu achei ela bem, bem irritante (claro, podem começar as análises psicanalíticas de por que alguém tão parecida comigo mesma me irritava tanto). Quando a conheci mesmo, e começamos a nos tornar amigas, aí sim: tive certeza de que ela era minha "dupla".

Se eu tivesse escolhido cursar jornalismo, ao invés de Ciências Sociais, acho que eu seria Jeanne Callegari.

Alguns momentos na vida parecem grandes bifurcações. Fazemos algumas escolhas que, quando paramos pra pensar, anos mais tarde, vemos que foram essenciais pra estarmos onde estamos, sermos que somos. Ter escolhido cursar ciências sociais foi uma destas, para mim. E foi só quando a conheci que comecei a pensar: não tinha notado que eu guardava essa curiosidade, de saber o que teria acontecido se eu tivesse estudado jornalismo. Uma curiosidade que eu nunca tive, mas que percebi que tinha tido quando pôde ser, em parte respondida. Eu não sei bem como explicar, mas às vezes tenho certeza de que somos a mesma pessoa.

Tenho outras amigas tão próximas quanto ela, é fato. A diferença é que além da proximidade, da intimidade de amiga, tenho mesmo é uma grande identificação - e, como não posso ignorar meu ego, uma grande admiração também - pela Jeanne. Encontrar com ela é o tipo de coisa que poderia, acho, provocar uma hecatombe no tempo-espaço. As coisas que eu gostaria de ter aprendido e que minha escolha pelas ciências sociais não me permitiu aprender, aprendi com ela, que escolheu o jornalismo. Das histórias dela de adolescência aprendo que ela levou sua punk interior mais a sério, como fiz com minha hippie - mas ambas nos habitavam e habitam ainda hoje. Isso pra não falar no amor pela poesia, que eu sempre tive e a vejo realizar de uma forma que escolho não fazer. Não agora. Pra compensar, tem o amor dela pelas perguntas, pela desconfiança, pela investigação. Jeanne seria uma ótima socióloga, se o destino de sermos "dupla" uma da outra não nos impedisse de sermos a mesma pessoa, o que significa em termos práticos que ela jamais de convencerá a ir pra esta área apesar do fascínio que por ela parece nutrir.

Eu acho que eu até daria uma boa Jeanne.
Quem sabe ela desse uma Marília melhor.

{Há outra coisa que me parece ficar cada vez mais próxima: ela é a Marília que vai ter filhos depois dos 30. Eu, provavelmente, nem tanto. Veremos.}

Hoje pra mim é dia de celebrar este encontro. De comemorar ter na Terra, primeiro, e depois no meu círculo de amizades muito, muito, muito próximas, uma pessoa que é em grande parte uma parte mim que deixei em algum lugar da história. É narcisístico, eu sei. Mas me conforta extremamente. Se o mundo estiver contra mim, eu sei que ela sempre vai entender meu lado. Mesmo quando não concordar (e me der broncas, toques e afins; alguns que só ela consegue, aliás). Eu, o dela.

Ainda bem que Jeanne existe. Fico feliz.

<3 Je <3

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quero fazer mestrado. E agora? (parte II)

Se perdeu, leia a parte I aqui. Estes posts foram sugeridos por uma leitora de apelido Miss Little e pretendem ser uma ajuda a quem está pensando em se embrenhar pela experiência de fazer um mestrado. Espero que ajude!

*  *  *

4. Projeto ou Plano de Estudos
Então você já definiu que quer fazer mestrado, já sabe o por quê, já escolheu o assunto a investigar, o programa (ou os programas) e possíveis orientadores/as. Muito bem. Agora é hora de botar a mão na massa. Ou quase isso.

Pra começar é importante dar uma boa olhada nos requisitos da seleção para o programa ou os programas escolhidos. Embora alguns programas no Brasil e muitos no exterior não peçam projetos de pesquisa, sempre há alguma espécie de carta ou texto ou plano de estudos que deve ser informado. A banca não te conhece e suas intenções precisam estar claras sobre o que é que, afinal de contas, você pretende fazer ali. No caso das seleções que pedem projeto de pesquisa, esta também uma forma dos pesquisadores se interessarem em orientar você, o que é bem importante, diga-se de passagem. Esta elaboração é essencial.

A banca e os pesquisadores precisam ver, no seu projeto de pesquisa ou plano de estudos, algo interessante, viável, e que possa ser adequado ao tempo de um mestrado caso eles julguem que não esteja (e que isso não tem problema; de fato, muitas vezes não tem, mesmo, já que a banca pode ter a noção de lembrar que você nunca fez mestrado antes). No texto do projeto ou do plano de estudos a tal da abordagem (leia na parte I) sobre o assunto de pesquisa precisa também ficar clara. Além disso, também é importante mostrar pra banca que você entende minimamente do que está falando e de que tem uma noção das outras abordagens possíveis, e se mostrar também aberto/a a discutir ou trabalhar com elas (ainda que fazendo um contraponto).

Nessa hora, fazer uma boa pesquisa bibliográfica é fundamental. Escrevi um post com algumas dicas aqui sobre como encontrar bibliografia relevante. Depois de encontrar, é claro, você vai precisar ler essa bibliografia e escrever sobre ela. O importante desse pedaço é tentar botar as coisas que você leu em relação umas com as outras, de forma mais geral, e não somente ficar explicando o que cada autor ou obra disse e deixou de dizer. Está aí o primeiro desafio real.

Escrever esse projeto de pesquisa não é fácil. Provavelmente depois que você entrar no mestrado ainda vai mudar o projeto, revisar, refazer, reescrever, etc. Não fique incomodado/a, é assim com a grande maioria das pessoas. Eu passei meio ano refazendo meu projeto quando entrei no mestrado. Ainda bem, pois não teria conseguido a bolsa FAPESP sem ter trabalhado tanto sobre ele. Ao mesmo tempo, refazer o projeto ajuda a ter uma visão cada vez mais clara do que é que você vai fazer, afinal.

Invista tempo no projeto de pesquisa antes e depois do processo seletivo, que ele é bem importante. Se tiver amigos ou amigas que estudam ou trabalham na mesma área peça para que leiam, comentem, apontem incoerências, erros. Se tiver amigues jornalistas, revisores, etc., peça para que dêem uma ajuda com o texto. Mude, revise, refaça, acate sugestões pertinentes, agradeça mas ignore aquelas que não forem tão pertinentes. Tente lapidar o quanto conseguir o projeto. É difícil, mas é possível, eu juro.


5. Processo seletivo, provas, entrevistas
Com o projeto bonitinho em mãos, e já inscrito/a na seleção, é importante se atentar para o funcionamento deste processo. Se você está aplicando para mais de um programa, pode ser uma boa olhar diferenças entre eles no que diz respeito à seleção. Examine os editais e veja os critérios de avaliação para todas as etapas.


Os editais, porém, dão uma ideia parcial de como é o processo seletivo. Há algumas sutilezas que nem sempre os editais mostram. Quase nunca, na verdade. O tipo de questão que contém as provas, por exemplo. Ou o que perguntam na entrevista. Como são os professores da banca. Tantas coisas que te ajudariam se você soubesse...

... por isso outra dica é conversar com alguém que já tenha feito esse processo, pra saber qual é o rolê. Como foi, o que a pessoa percebeu que contou a seu favor, o que ela teria feito diferente, etc. Faça uma entrevista completa com seus amigos e amigas, porque vale a pena. Informação ajuda nessa hora, e muito.



6. Bolsa
Este é um ponto a se considerar antes, durante e depois da seleção do programa de mestrado dos seus sonhos. Dedicar-se exclusiva e totalmente à pesquisa é uma delícia, mas pra isso em geral é preciso uma bolsa. As faculdades e institutos de universidades federais e estaduais, em geral, recebem um número X de bolsas do CNPq e da CAPES e distribuem conforme os critérios que acham melhor. Algumas fazem ranking da seleção e os primeiros recebem bolsa, outras selecionam o número de alunos igual ao número de bolsas e todo mundo que entra recebe bolsa, outras fazem sorteio, outras usam critério socioeconômico. Enfim. Cabe ao programa definir a atribuição de bolsas. Dê uma investigada nisso e se prepare pra mandar papelada, etc. Esteja alerta.

Em alguns estados (como São Paulo) outras agências financiadoras (como a FAPESP) também dão bolsas de pesquisa, diretamente concedidas ao orientador/a e ao mestrando ou à mestranda. Em geral existe um processo seletivo paralelo e vale a pena dar uma boa pesquisada e, depois de aprovado/a, conversar com o/a orientador/a pra acertar ponteiros também sobre isso. Bolsas FAPESP merecem um post à parte, no futuro.


7. Fuçar, fuçar, fuçar
Em suma, a dica é: se informe muito. Muito mesmo. Até o talo. Chafurde na informação. Use e abuse da internet pra isso. Visite os sites dos programas, dos departamentos, leia currículos Lattes, busque artigos no Scielo e no Google Acadêmico, converse com pessoas. Tudo que você puder saber vai ajudar muito!

*  *  *

Com esta parte II encerro a série "Quero fazer mestrado. E agora?". Mais sugestões de posts serão muito bem aceitas; peço que usem a caixa de comentários ou meu email para isso. Me dêem, por favor, um feedback: ajudei em alguma coisa?

Quero fazer mestrado. E agora? (parte I)

Este título foi quase exatamente como uma leitora com apelido de Miss Little me sugeriu escrever esse post. Demorei mais de mês, é fato, mas cá está ele. Um post, como ela disse, "sobre o início", "o que fazer quando se decide 'quero o mestrado'. Enfim, um help para os iniciantes inspirados!". Ou pelo menos é isso que tentei fazer aqui.

*  *  *

1. Fazer ou não fazer mestrado: eis a questão
Eu confesso que talvez não seja a melhor pessoa pra dar este tipo de dica. Principalmente porque eu não planejei fazer mestrado, nunca quis fazer mestrado. Quer dizer, até eu decidir fazer, vendo a oportunidade. Há quem tenha a carreira acadêmica, ou ao menos um mestrado, como meta clara desde o início da graduação. Eu fiz iniciação científica pra ver como era, e tinha muita certeza de que não seria acadêmica. Ironias da vida. Meu segundo projeto de IC foi aprovado por um parecerista e rejeitado por outro. O parecerista que aprovou sugeriu transformar num projeto de mestrado. Claro que eu fiquei #chatiada e decidi me formar e ir embora da academia. Só que a academia não foi embora de mim.

Depois de me formar consegui um emprego com um salário legal. Logo no começo do ano, neste novo emprego, minha orientadora de IC me perguntou se eu tinha pensado em prestar a seleção do mestrado para o ano seguinte. Ela não iria me ajudar com o projeto (por razões óbvias de evitar favorecimento), mas estava interessada em saber se eu participaria do processo. Por alguma razão oculta de destino, divindade ou karma, eu disse que sim. E me pus a elaborar projeto, o que eu não tinha feito até ali. Acho que estávamos em Maio, e a seleção era no início de Agosto. Corri.

Só descobri que eu queria mesmo seguir carreira acadêmica, como acho que quero (ou sei que quero?), depois de alguns meses fazendo mestrado. Essa é a vantagem, me parece, de fazer mestrado, em especial com bolsa de pesquisa. É uma espécie de teste que você pode dar a si mesmo. Um experimento. A iniciação científica é em geral muito curta e pontual (e feita durante muitas disciplinas de graduação) pra que se tenha uma ideia do que é, de fato, este trabalho de fazer pesquisa 24x7, publicar artigos, ter o trabalho debatido em congressos, etc. etc. etc. Então, antes de decidir fazer o mestrado, é preciso decidir se e por que você quer fazê-lo, mesmo.


2. Que mestrado? Sobre o quê?
"Mestrado", na verdade, é um termo geral. É um tipo de curso. Dizer "quero fazer mestrado" é parecido com dizer "quero fazer graduação", no sentido de que ambas as frases não dizem nada do que você quer fazer. Curioso, não? Assim como na graduação, é preciso escolher um curso de mestrado. É aí que o bicho pega.

A pesquisa em geral tem uma flexibilidade de fronteiras maior do que a graduação. Em geral escolhemos graduação pela profissão que nos cativa, ou por um assunto que nos interessa, ou por uma disciplina que curtimos no ensino médio. Depois de ter estudado na graduação, conseguimos compreender o quão vasto é aquele campo de trabalho que escolhemos, descobrimos uma série de possibilidades que nem imaginávamos ali. Por isto a pergunta sobre que curso de mestrado é melhor fazer só pode ser respondida junto com a pargunta sobre o assunto que você deseja estudar.

Se tem um conselho legal que eu recebi da minha orientadora no início do mestrado foi este: escolha um assunto que te fascine da forma mais profunda possível. A ideia do mestrado é, pela primeira vez na vida (em geral), ter uma experiência prolongada e muito aprofundada de pesquisa. Não é fácil, nem é pouca coisa. Se não escolhermos um assunto que nos engaja, envolve, que nos move, esse  processo fica ainda mais difícil. Já não é fácil com um tema de muito interesse. Com um tema escolhido por conveniência, ou por qualquer outro motivo que não seja o mais puro tesão intelectual, será sofrimento ao cubo.

Uma coisa que eu percebo conversando com pessoas que estão pensando em aplicar para um mestrado, é a dificuldade em delimitar este tema. Isso vale um post à parte, exclusivo. Mas a dica é que quanto mais completa a ideia inicial sobre seu tema, mais fácil será elaborar um projeto. Quer dizer, "feminismo no Brasil" não é um bom tema de mestrado, por exemplo. Por ser muito amplo, fica difícil escrever um projeto que dê uma boa ideia à banca sobre o que exatamente te interessa ali. Então vale se perguntar: que pedaço deste tema mais geral me interessa? Que perguntas eu consigo fazer para este tema? Que aspecto eu quero explorar ou descobrir nesse tema geral? Assim se começa a propor recortes (que, claro, podem e talvez devam mesmo mudar depois da entrada no programa de mestrado). 

Com esta ideia mais clara, ficará também mais fácil encontrar um programa de mestrado que ofereça linhas de pesquisa que tenham a ver com o que você quer estudar. A dica é entrar no site, fuçar as linhas de pesquisa e a produção dos pesquisadores vinculados. Não tem outra maneira de fazer uma boa escolha. Outra forma de escolher o programa é diretamente pelo orientador que você deseja.


3. Onde? Com quem?
Esta pergunta é fundamental. No mestrado, apesar do título de "Mestre" que você vai ganhar se defender legal, você não é mais do que um aprendiz. Let's face it: você nunca fez pesquisa nesse grau de comprometimento e aprofundamento em toda sua vida e precisa aprender como se faz. Nada mais justo. Então absolutamente tudo que você faz é responsabilidade também do seu orientador, mesmo quando ele ou ela têm a postura louvável de te dar uma certa independência (o que é sensacional, dizendo por experiência própria).

Além disso, como é quase diretamente daquela pessoa que você vai aprender e captar os macetes do trabalho científico, é bom que seja alguém que trabalhe numa linha de pesquisa e numa abordagem do assunto com a qual você se identifique. Por este motivo, também é razoavelmente importante que você se pergunte: afinal, com qual abordagem desse assunto eu me identifico? Reparem que a abordagem não é o mesmo que o recorte, de que falei no item anterior. O recorte é uma delimitação do assunto que você quer pesquisar. Só que mesmo algo já muito bem recortadinho ainda pode ser trabalhado de diversas maneiras. É aí que entra a abordagem.

Escolher abordagem e orientador/a também pode ser anterior a escolher o programa. Afinal de contas, de que adianta um programa com uma linha de pesquisa que trabalhe com o assunto que você quer, mas onde nenhum pesquisador faça pesquisas com a abordagem que você acha mais interessante? Eu respondo: nada. Passar dois a três anos brigando com pesquisadores mais experientes (ou até com departamentos inteiros) não é uma escolha muito sábia e te impede de aprender uma série de coisas. Essa escolha precisa ser bem feita. Claro que, sempre, na medida do possível. Vivemos na contigência, afinal.


*  *  *

Há muito mais a fazer quando se decide fazer mestrado. Estes três pontos são o início do início. O próximo post (parte II) reflete sobre algumas outras coisinhas.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

elas, as cotas, na pós-graduação 'stricto sensu'

[este texto é parte da Blogagem Coletiva Mulher Negra; leia outros textos sobre racismo e desigualdade racial no site da blogagem]

Integração racial é um tema duro. Duro porque mexe lá no fundo, numa culpa que ninguém gostaria de ter. Mas temos, e precisamos assumir. A culpa de descender de uma sociedade que lucrou explorando a diversidade racial e que se nega a olhar seus efeitos. A culpa de diretamente ter se beneficiado a vida toda de uma pele clara - você pode nem enxergar direito como mas, sim, se você tem a pele clara, se beneficiou da desigualdade racial e da escravidão de africanos, muito mais diretamente do que gostaria. Eu também.




Uma das consequências diretas desta exploração é o quase nulo acesso da população negra ao ensino superior, num geral, e em especial no sistema público (instituições estaduais e federais de todos os tipos). A consequência da consequência, é a ainda mais forte ausência de negros e negras entre estudantes de pós-graduação e, claro, trabalhando como professores destas mesmas universidades.

Ser professor de universidade pública no Brasil hoje, mesmo com tantos problemas na carreira, é uma posição de muito poder e de muito prestígio. Em primeiro lugar porque produzir o conhecimento e ter controle sobre os rumos da ciência é um tipo de atividade que acaba determinando uma parte do futuro da humanidade (ó, que profética; mas é assim mesmo, melhor ver as coisas como são). Determina-se como a sociedade pensa, dentro de que limites as inovações tecnológicas são feitas, etc. Além disso, existe uma associação muito forte desta posição com a produção de políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação (ou seja, com a continuidade desta posição social/profissional) e, de forma mais abrangente, com o Estado em geral, onde acadêmicos e acadêmicas inserem-se tanto em cargos do poder executivo, quanto como consultores/especialistas de agências, etc. Estão por toda a parte daquilo que é o maior poder da sociedade hoje. Não é pouca porcaria.

A ausência de pessoas negras nestas posições (assim como em outras posições políticas e/ou ligadas ao Estado) é outra consequência nefasta não apenas da escravidão de povos africanos, mas de políticas de Estado declaradamente racistas implementadas após a abolição. O curioso é que mesmo gente que defende cotas raciais no ensino de graduação, se recusa a aceitá-las na pós-graduação stricto sensu (lembrando que a pós-graduação pública no Brasil é quase inteira stricto sensu e voltada à formação de recursos humanos para a ciência). Se o mito da meritocracia no vestibular está caindo por terra, é preciso que fiquemos atentos ao mito da meritocracia também na pós-graduação.

O que se propõe, quando fala-se em cotas raciais na pós, não é que se aceite pessoas pouco preparadas, projetos de pesquisa irrelevantes, etc. "tudo em nome das estatísticas". O que se propõe, muito ao contrário disto, é que os processos de seleção dêem preferência a candidatos e candidatas negros e negras igualmente competentes com seus competidores brancos (lembrando ainda da enorme escassez de vagas e bolsas nestes programas). É preciso enegrecer a universidade por inteiro, e não apenas no pedacinho que forma mão de obra para diversas fatias do mercado de trabalho não-acadêmico. É preciso enegrecer a ciência, também, e a gestão do Estado. Este e um possível caminho.

Neste ano, o programa de pós-graduação em antropologia da UFRJ/Museu Nacional foi o primeiro programa de pós stricto sensu (ao menos de que eu tive notícia) a decidir pela implementação de cotas raciais em seu processo seletivo, reparando historicamente grupos afrodescendentes e indígenas. Foi uma notícia e tanto, muito celebrada por muita gente, eu inclusive. Neste dia 20 de Novembro e em todos os demais dias deste e dos próximos anos, ela precisa ser lembrada e reivindicada.

Embora ainda haja outros tantos argumentos que sustentam a implementação deste tipo de política, deixo para a caixa de comentários o prazer de debatê-los. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

há vida lá fora : ou Gonzaga e o capital simbólico

É sempre quando vou ao cinema que me lembro: há vida fora da tela (do computador) e da janela (do meu quarto). Exagero, claro, eu sei que a vida esteve e está aí, o tempo todo. Mas tanto quanto os romances, a poesia e a literatura em geral, os filmes dão aquela refrescada necessária no cérebro viciado no pensamento científico. Mas também não é para tanto. Não dá pra deixar de ser acadêmica e olhar o mundo com o conhecimento acumulado, já que esse conhecimento é vivo, e os objetos e sujeitos de investigação estão ao nosso redor, e em nossa subjetividade. Pois bem.

Ontem fui assistir "Gonzaga, de pai para filho", um pouco desconfiada porque o diretor quase não mudou a fonte do título e o projeto gráfico de "Dois filhos de Francisco", seu megasucesso cinematográfico. Nada contra os filhos de Francisco, na verdade achei um filme bem interessante e bonito. Mas Gonzaga é outro papo. A narrativa é um pouco mais quebrada, na medida que um filme comercial permite. Intercalam-se cenas documentais com a ficção, que também não é tão ficção assim. Me parece que a diferença entre os dois filmes está justamente na forma de abordar a mitologia individual das histórias destes artistas. "Dois filhos de Francisco" é um filme que cria essa mitologia para artistas já conhecidos e consagrados da música popular; "Gonzaga, de pai para filho" é um filme que também cria uma mitologia, para o Gonzaguinha, enquanto bota em xeque a mitologia do rei do baião e seu pai, Luiz Gonzaga.

Além disso, há todo um tom interessante no filme que também desconstrói esse "pai santo" que aparece em "Dois filhos de Francisco". Luiz Gonzaga, como pai, ocupa papéis ambíguos ao longo do filme: um pai dedicado, mas que abandonou o filho pelo menos afetivamente, que deixou criar-se uma certa distância, que foi intolerante e errou muitas vezes. Formas de ser pai - imagino que ozamigue da antropologia que estudam relações de parentesco, masculinidade e paternidade devam estar enchendo os olhinhos com este filme, e com muita razão. Tem ainda a desconfiança de que Luiz Gonzaga não seria o pai biológico de Gonzaguinha, e o filme acerta em responder a dúvida com um belo: "dane-se; quem se importa? era pai e pronto".

Mas é claro que, como eu não sou antropóloga, e estudo Bourdieu, foi ele que me veio à cabeça o tempo todo. Se eu estudasse os teóricos da Escola de Frankfurt, claro, esse post poderia ser completamente diferente. Como não é o caso, ao final do filme eu só conseguia pensar em que bom exemplo esses dois personagens da MPB eram para observar efeitos concretos de mudanças no mercado de capital simbólico. Quer dizer, Luiz Gonzaga se coloca num local consagrado, mas simplesmente não consegue (e não quer) se reiventar para atender às demandas desse mercado, que deixa de valorizar não só seu trabalho, mas toda a série de características dele mesmo. O grande artista dança, se veste com roupas exóticas, canta versos com palavras simples e populares, sobre a vida de um pedaço da população que definitivamente não é o dominante. Nos anos 70, o "grande artista" é outro, seu filho Gonzaguinha: estudou na universidade, se veste como todo mundo, deixa a barba crescer como todo mundo, toca violão, canta palavras complicadas e traços de uma vida que sempre foi urbana. Desse abismo vem a decadência de um, a ascensão de outro.

Não tenho pretensão alguma de que este post possa ser útil, de alguma forma "conteudista", para meu trabalho. Útil foi sair de casa, assistir o filme, ficar com essas coisas na cabeça que despejo aqui pra vocês. Me lembrou de que o cinema inspira, e muito, mesmo quando o assunto parece distante da pesquisa. E, para mim, não vale alugar ou baixar filmes, porque é todo o ritual de ir ao cinema que me ajuda a relaxar. Aí é com cada um.

Pra vocês, o cinema é também essa fonte mágica de inspiração? :)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Can feminism be homophobic and racist?

Varsovie - Femen
Joseph Paris, Flickr, CC
It's sometimes funny how diverse feminism is. It's possible to find feminist groups claiming all sorts of stuff. Cissexist feminists claim you're only a woman if you have a vagina. Racist feminists claim all women are equally opressed for being women. Homophobic feminists claim lesbian relationships do not have unequal power struggles. These are just examples, of course, but it becomes clearer and clearer to me which feminism is not the one I want and fight for. Recently an international organization landed in Brazil and brought with them lots of controversy. Not because they protest naked, but because the founder of Femen Brazil has been giving many racist, fascist and homophobic statements to mass media.

"Ucranian women have priviledged genetics", said Sarah Winter, referring to their predominantly white skin and blond hair, such as her own. She uses a fake name that refers to a Nazi british woman.  Some people found out that a few years ago she joined neonazi groups. Even though this is her past, she wasn't able to explain how well it fits the recent declaration mentioned above.

The same so-called leader said that many ucranian Femen activists "become lesbians" when they're unhappy about what men do. The idea that one "becomes" a lesbian as a rational choice that diverts from the "normal" and "natural" state of being heterosexual is heavily loaded with homophobia. She couldn't explain this declaration either.

What abou the ucranian activists? Do they know about it? Do they understand what nationalism means in Brazil (nazi-fascism, to be precise)? Why haven't they given any theoretical or even basic human rights knowledge support to these Brazilian girls? Or are they in fact homophobic and racist without any shame of guilt about it?

Honestly, I can't say. One of the Brazilian activists has already quit Femen Brazil (they spell it with a z even though we spell it, in Portuguese, with an s), with a public letter saying many of her criticism hadn't been addressed or answered by the ucranian group. It made it look even worse.

Besides all that, they have also engaged in marketing actions (?) and apparently they're connected to a ultra-conservative political party.

I'm not sure if I really care.
What I care about is someone saying racist and homophobic stuff and being considered a "feminist". That is just wrong.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Brazilian universities claim their right to remain racist

Racism
Farhad Sh, Flickr, CC
During the past weeks we watched a historical victory for black Brazilian people. Maybe the biggest one since the end of slavery (and their right to vote, which came much later and were mixed with other poor and illiterate non-blacks rights). The Senate in Brazil approved that, from now on, 50% of all students who enter public federal universities every year need to come from public schools. From this number, half of students should be black, and the other half should be those who aren't black, including there proportionality to other ethnic minorities according to their presence in each state. This is still an unequal situation since a lot more more than half brazilian students are in public schools before university, a lot more than half of those being black. Still, it is a very important step. But I must turn to the Brazilian higher education system first and, then, to Brazilian political and ratial history so that you can really understand what's going on around here.

Higher education in Brazil is diverse (although not so much in terms of its students' race). There are different institutions of different kinds. The most prestigious institutions are the public ones, which are all owned and manged by the State, wheter locally (by cytyhalls), in state-level (by state governemnts) or federal (by the federal government). In Brazil, all universities are obliged to select a limited number of students. They use a test called "vestibular" and in exceptional cases, such as the University of Brasilia, students can choose to take different exams in each of the three years of high school so that they're not evaluated based on a single performance. There is no such thing as open admissions in Brasil (I strongly envy Argentina for that).

Until now, these limited places in the majority of the most prestigious universities (the federal ones), have been assigned in a "vestibular" test, which is not fair at all, since those who can afford (usually whiter and richer) pay for specialized schools that train their kids to pass these tests. But being so, wouldn't this be more of a social issue than ratial?

Well... No. Here's why.

Brazilian history is a sequence of opressive actions from a very small and very powerful group of white rich people against a huge number of black workers. It all started when white Portuguese (then Spanish, then Dutch) arrived in the southern corners of what is nowadays Brazilian terrotory. Differently from most latin american big colonies, in the colonizer's policies Brazil mean natural resources extraction only. At first. They basically sent here everyone they didn't want living in Portugal (renegated noble families, convicted murderes, thieves, and other marginalized groups). Their first idea was to enslave indigenous people who lived here, but jesuits believed they were somewhat human, and therefore could be taught religion and become people. With all the african slavery starting, and the enormous advantage of indigenous tribes over white people for having most forests mapped in their heads already (and for knowing how to live exclusively from the forests resources), they instituted african slavery some decades after they arrival.

Black slavery in Brazil went for a really long time, and we were the last country in the American continent to end slavery. Shame on us. A lot of shame on us indeed. We still liked to be different from everywhere in Latin America, so when we became independent (1822) we kept both slavery AND monarchy. Yeap. It was only in 1888 that a Princess (for republic would only come the following year, 1889) from a Spanish family signed the end of slavery. But.

What did we do when slavery ended? Did we allow black people to be citizens? Yes. Just like whites? Hmmm... No. We didn't. The small group of white powerful and rich people felt it was humiliating if they had to pay their own animals to do the same work they used to do for free. Since they were the ones in charge, they came up with a plan. In the end of the 19th century there was famine in Europe, and their governments were having a hard time dealing with that. Brazilian and European governments decided to play smart together and signed various agreements to facilitate european immigration to Brazil. Smart, huh? While governments in countries like Italy, Portugal, Poland, Germany, Ukraine, Russia, and many others, got rid of part of their poverty (simply by sending poor families away with the promise of a better life), Brazilian government was proud to announce that their farmers would have white workers to hire. As an even better consequence, we would be safe from becoming a nation of black people (like Haiti, who pay their price until these days).

The most cruel consequence of all that is that if you were born black in Brazil, you never really had a chance. In Brazil, social and ratial conditions are strongly codependent. While someone can get richer, though, they simply can't get whiter. That means they will have to live with prejudice for their whole lives. Racism is a crime in Brazil, but it's really hard to see anyone really sewed for that. Structural racism, though, is everywhere and really hard to be seen. It's also one of the worst kinds: young black men who get shot by the racist police, who thinks they're obviously drug dealers; young black women who are treated like animals in hospitals when they get there after rapes or during unwanted pregnancies. Just for being black. It doesn't matter how poor the white person is, they will never have to face those risks.

As if all this wasn't horrible enough, all organizations that represent our public universities and private schools (where white kids usually study) have been releasing notes to the press stressing they're opposed to such policies. They feel that themselves, the so unpriviledged rich white people who have always occupied all sorts of positions of power in our society, are being discrimnated. Yes, that's what you've heard. Absurd. Ridiculous. Nonsense.

But, hey, in the context of equality and human rights, there is no such thing as racism making sense, right?

That's what I thought.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Abortion in Brazil: are we loosing the few rights we have?

-5
J.K. Califf, Flickr, CC
Earlier this month, Women On Waves announced that a group of Kenyan activists created the "Aunty Jane" hotline, to provide information about using misoprostol and having safe abortions at home. According to the press release
"Aunty Jane Hotline is an Interactive Voice Response system, meaning women can access information 24 hours a day, 7 days a week in English and Swahili. Aunty June gives information on PPH prevention, contraception, unwanted pregnancy and abortion, among other sexual and reproductive health topics. Because abortion is a very stigmatized topic, the launch of this public hotline is an important step forward. Callers can leave a message or sms and get a call back from a trained operator if they have specific questions or want to speak with someone".
As soon as I got those news, I envied the Kenyans. Abortions are the third cause of maternal mortality in Brazil. It's estimated that over 1 million abortions take place in Brazil every year. One in five Brazilian women will have aborted by the age of 40, at least once. Abortions are punishable by law, unless the pregnancy is considered risky to one's life or consequence of rape. In both cases, though, court orders are needed to require the surgery and justice is not accessible at all to the most vulnerable groups of our population. Recently the Supreme Court in Brazil ruled that anenchepalic fetuses can be aborted if the pregnant wishes so.

At the same time, fundamentalist and conservative politicians have submitted a new law to the Congress, called "Estatuto do Nascituro", which actually means something like "Unborn Rights Act". The law, if approved, puts unborn fetuses' rights above adult persons' rights. We would basically become wombs tutored by the State. Not eating "properly" while pregnant would be ground to imprison someone, for instance. The Act doesn't define, however, what "properly" means in any cases, and it doesn't define from what moment embryos of fetuses would have such rights (from conception? what about miscarriages then?).

Women's and feminist organizations are already fighting against this threat, but all help is needed. There is an online petition you can sign here (I haven't tried translating the statements of the petition via Google Translate but I guess general meaning can be properly conveyed if you wish to do it) and several protests and online actions are being arranged.

How dare some Brazilians think they live in a more developed country than Kenya?

terça-feira, 17 de julho de 2012

Global and Brazilian cyberactivism: why not?

I had the honour of participating of a panel at Rio+20 last month. After the session I was interviewed to Amplify.org about cyberactivism in Brazil and globally. Here are some of my opinions/ideas. Have fun!

(and, please, let me know if you disagree and why; it will be certainly delighful to debate the topic with you)


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Can I get pregnant while using contraception?

All the contraceptive pills are gone...
by Gnarls Monkey, Flickr, CC
To many women this may seem a silly question, once almost everyone knows someone who indeed got pregnant while using contraception. When a cissexual woman says she got pregnant under these conditions, however, she is blamed for not having used it “correctly”. The responsibility of getting pregnant always seems to be hers. I’m not sure if this feels so strong also to trans* men who get pregnant, so let me know if it does (or not) and it will be extremely helpful of you. Cis women are blamed for not denying sex when a cis guy didn’t want to wear a condom, for seducing them, for not taking the pills the way they should, and so on. So let’s get real and use information on our favor; let’s understand a few important circumstances that can diminish efficacy of your contraceptives, especially pills.

Using the pill “correctly” means to take one everyday, around the same time, as prescriptions say. This way your body can receive the daily amount of hormones needed to avoid embryo fixation in your uterus along the month. Besides the pill, there are other ways you can ensure no fetus will develop inside you. Some of them can work better for you than the pill, it’s a matter of testing and trying to adapt. I, myself, have used different pills (with different doses of different hormones) and also a patch that needs to be changed once a week (it was a lot harder to forget changing it than to forget taking a pill in my case). There are also implants that are put under your skin or together with an IUD inside your uterus and release bits of hormones throughout a year or more; monthly injections with a higher dose of hormones that are absorbed by your body for a few weeks; a silicon ring put inside your vagina that releases hormones for a month.

Options exist and you can choose the one that fits better into your profile. Some people prefer taking the pill (me!) and getting a lower amount of hormones daily. Others prefer injections or patches because the pill is too easy to forget. Others go with the vaginal ring once they do not have enough time or patience to schedule doctors’ appointments monthly just to take the injections. Some just don’t want to even have to think about it for years, so they choose implants with or without the IUD. It’s really up to you and if your gynecologist does not inform you about all your options, I suggest you switch to another one, if possible.

The fact is: your body needs to receive the necessary amount of hormones so that it can avoid getting pregnant.

The problem is: even when using contraception correctly and even when they are super-efficient, some circumstances may always interfere with their efficacy and in these cases they may fail. And you might get pregnant. I had to find out about these factors by reading the recommendations that come in the medicine box, and also by almost risking unwanted pregnancies thanks to some doctors’ carelessness (like prescribing a powerful medicine that interferes with my pill but not even bothering asking me if I was taking pills). And for those who think information is available to all, just remember that many people do not read (and yes, they can also take contraception) and a big part of those who can read are not exactly able to decipher medical terms. In Brazil, at least, this is a very serious issue.

Diarrhea is a very common cause of contraception, more specifically pills, failing. When having a diarrhea, if severe enough, you intestine won’t be able to absorb the needed amount of hormones from pills.

Vomiting is also a common cause of pills failure. Part of the pills’ hormones should be absorbed in the stomach. If you have frequent hangovers/drinking vomiting or other serious conditions such as bulimia, reflux, etc. you may also be vulnerable. Many of these things are unfortunately still taboos so doctors do not even take them in account when prescribing pills. They do not ask about them to their patients. They do not consider the possibility of their patients being in these situations. Patients also usually do not tell their doctors about it – they know they might be scolded or receive looks of disapproval, among other things. For a bulimic person, or a heavy drinker, for example, vaginal rings, injections, implants and patches seem to be a better solution. If you can find a doctor who care about you and your lifestyle without judging you for it, I strongly recommend it.

Some antibiotics of broad spectrum also influence in your body’s capacity of absorbing hormones and may interfere with other contraceptions beyond pills. It’s worth asking doctors about this possibility every single time they prescribe you antibiotics. This is another excellent reason (besides other dozens of them) for using fewer antibiotics, only when needed and exclusively if you have a prescription for it. Immunosupressive drugs like some anti-allergic medication (prednisone, for instance) can have a similar effect.

These are the main and more usual circumstances you can find yourself in, that interrupt or diminish contraception effect. For what I have been told by doctors and books, tobacco and alcohol themselves are not harmful in what concerns contraception efficacy (they have other side effects combined with contraception that can be dangerous, so do check this with your gynecologist if you are a regular user of any of these drugs).

Now how about we stop blaming pregnant cis women exclusively for their unwanted pregnancies?

terça-feira, 10 de julho de 2012

journeys; setting sails

213 - Lady of the Sea
by Trevor, at Flickr, CC
This is a blog about journeys. About my journey and how it crosses and tangles other women's journeys. It took me a few years to create and decide to maintain a blog in english. This is not my native language and I kept asking myself why would anyone want to hear what a brazilian young activist and sociologist has to say. I never wanted to write exclusively about Brazil, even though I know my life experience as a brazilian may bring insteresting analysis to this project. Why would someone read me?

In fact, I still have no idea. You tell me.

After very tense moments - and very delighful ones, too - in Rio+20, in the World Youth Congress in Istambul, in the World Scout Conference in South Korea and its previous edition in Tunisia; after travelling through Brazil and visiting the US, UK, France, Netherlands and Argentina; after getting married completely in love when I had no expectations of it ever happening to me; after blogging in portuguese for a few years and being able to captivate a not-so-big-not-so-small audience for gender issues; after graduating a diploma and on my way to finish a Master's degree;

it seems I might actually have something to say.
About what?

Women. How do we live? What can we learn from each other? What is gender and how does it affect our lives? What inequalities do we reproduce (without even knowing we're doing it) everyday to other women? What is freedom and how can we build it? What's equality? Is this freer world, where we own our bodies and lifestyles, and make decisions with autonomy, possible? What attitudes do we need to achieve it? Is this important (and how?) if we plan to live, someday, in a fully sustainable society?

I'm afraid to say, though, if you're looking for these answers you might go away and never return to this blog. I do not have them. I do not know them. They might not even exist.

The only question a compass is able to answer is what arbitrary directions correspond to each place in a map or location. It doesn't know where to go, what's the shortest way, how to avoid dangerous routes or if you'd have to climb excessively high mountains to get there. It just says to you: in this arbitrary symbolic scheme, this is where everything stands. It doesn't tell you what to do with that, how to subvert it. But it helps you looking at it to find questions that guide you in doing all those things.

This is what this blog is about.

You're welcome to set your sails and join me.