quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quero fazer mestrado. E agora? (parte I)

Este título foi quase exatamente como uma leitora com apelido de Miss Little me sugeriu escrever esse post. Demorei mais de mês, é fato, mas cá está ele. Um post, como ela disse, "sobre o início", "o que fazer quando se decide 'quero o mestrado'. Enfim, um help para os iniciantes inspirados!". Ou pelo menos é isso que tentei fazer aqui.

*  *  *

1. Fazer ou não fazer mestrado: eis a questão
Eu confesso que talvez não seja a melhor pessoa pra dar este tipo de dica. Principalmente porque eu não planejei fazer mestrado, nunca quis fazer mestrado. Quer dizer, até eu decidir fazer, vendo a oportunidade. Há quem tenha a carreira acadêmica, ou ao menos um mestrado, como meta clara desde o início da graduação. Eu fiz iniciação científica pra ver como era, e tinha muita certeza de que não seria acadêmica. Ironias da vida. Meu segundo projeto de IC foi aprovado por um parecerista e rejeitado por outro. O parecerista que aprovou sugeriu transformar num projeto de mestrado. Claro que eu fiquei #chatiada e decidi me formar e ir embora da academia. Só que a academia não foi embora de mim.

Depois de me formar consegui um emprego com um salário legal. Logo no começo do ano, neste novo emprego, minha orientadora de IC me perguntou se eu tinha pensado em prestar a seleção do mestrado para o ano seguinte. Ela não iria me ajudar com o projeto (por razões óbvias de evitar favorecimento), mas estava interessada em saber se eu participaria do processo. Por alguma razão oculta de destino, divindade ou karma, eu disse que sim. E me pus a elaborar projeto, o que eu não tinha feito até ali. Acho que estávamos em Maio, e a seleção era no início de Agosto. Corri.

Só descobri que eu queria mesmo seguir carreira acadêmica, como acho que quero (ou sei que quero?), depois de alguns meses fazendo mestrado. Essa é a vantagem, me parece, de fazer mestrado, em especial com bolsa de pesquisa. É uma espécie de teste que você pode dar a si mesmo. Um experimento. A iniciação científica é em geral muito curta e pontual (e feita durante muitas disciplinas de graduação) pra que se tenha uma ideia do que é, de fato, este trabalho de fazer pesquisa 24x7, publicar artigos, ter o trabalho debatido em congressos, etc. etc. etc. Então, antes de decidir fazer o mestrado, é preciso decidir se e por que você quer fazê-lo, mesmo.


2. Que mestrado? Sobre o quê?
"Mestrado", na verdade, é um termo geral. É um tipo de curso. Dizer "quero fazer mestrado" é parecido com dizer "quero fazer graduação", no sentido de que ambas as frases não dizem nada do que você quer fazer. Curioso, não? Assim como na graduação, é preciso escolher um curso de mestrado. É aí que o bicho pega.

A pesquisa em geral tem uma flexibilidade de fronteiras maior do que a graduação. Em geral escolhemos graduação pela profissão que nos cativa, ou por um assunto que nos interessa, ou por uma disciplina que curtimos no ensino médio. Depois de ter estudado na graduação, conseguimos compreender o quão vasto é aquele campo de trabalho que escolhemos, descobrimos uma série de possibilidades que nem imaginávamos ali. Por isto a pergunta sobre que curso de mestrado é melhor fazer só pode ser respondida junto com a pargunta sobre o assunto que você deseja estudar.

Se tem um conselho legal que eu recebi da minha orientadora no início do mestrado foi este: escolha um assunto que te fascine da forma mais profunda possível. A ideia do mestrado é, pela primeira vez na vida (em geral), ter uma experiência prolongada e muito aprofundada de pesquisa. Não é fácil, nem é pouca coisa. Se não escolhermos um assunto que nos engaja, envolve, que nos move, esse  processo fica ainda mais difícil. Já não é fácil com um tema de muito interesse. Com um tema escolhido por conveniência, ou por qualquer outro motivo que não seja o mais puro tesão intelectual, será sofrimento ao cubo.

Uma coisa que eu percebo conversando com pessoas que estão pensando em aplicar para um mestrado, é a dificuldade em delimitar este tema. Isso vale um post à parte, exclusivo. Mas a dica é que quanto mais completa a ideia inicial sobre seu tema, mais fácil será elaborar um projeto. Quer dizer, "feminismo no Brasil" não é um bom tema de mestrado, por exemplo. Por ser muito amplo, fica difícil escrever um projeto que dê uma boa ideia à banca sobre o que exatamente te interessa ali. Então vale se perguntar: que pedaço deste tema mais geral me interessa? Que perguntas eu consigo fazer para este tema? Que aspecto eu quero explorar ou descobrir nesse tema geral? Assim se começa a propor recortes (que, claro, podem e talvez devam mesmo mudar depois da entrada no programa de mestrado). 

Com esta ideia mais clara, ficará também mais fácil encontrar um programa de mestrado que ofereça linhas de pesquisa que tenham a ver com o que você quer estudar. A dica é entrar no site, fuçar as linhas de pesquisa e a produção dos pesquisadores vinculados. Não tem outra maneira de fazer uma boa escolha. Outra forma de escolher o programa é diretamente pelo orientador que você deseja.


3. Onde? Com quem?
Esta pergunta é fundamental. No mestrado, apesar do título de "Mestre" que você vai ganhar se defender legal, você não é mais do que um aprendiz. Let's face it: você nunca fez pesquisa nesse grau de comprometimento e aprofundamento em toda sua vida e precisa aprender como se faz. Nada mais justo. Então absolutamente tudo que você faz é responsabilidade também do seu orientador, mesmo quando ele ou ela têm a postura louvável de te dar uma certa independência (o que é sensacional, dizendo por experiência própria).

Além disso, como é quase diretamente daquela pessoa que você vai aprender e captar os macetes do trabalho científico, é bom que seja alguém que trabalhe numa linha de pesquisa e numa abordagem do assunto com a qual você se identifique. Por este motivo, também é razoavelmente importante que você se pergunte: afinal, com qual abordagem desse assunto eu me identifico? Reparem que a abordagem não é o mesmo que o recorte, de que falei no item anterior. O recorte é uma delimitação do assunto que você quer pesquisar. Só que mesmo algo já muito bem recortadinho ainda pode ser trabalhado de diversas maneiras. É aí que entra a abordagem.

Escolher abordagem e orientador/a também pode ser anterior a escolher o programa. Afinal de contas, de que adianta um programa com uma linha de pesquisa que trabalhe com o assunto que você quer, mas onde nenhum pesquisador faça pesquisas com a abordagem que você acha mais interessante? Eu respondo: nada. Passar dois a três anos brigando com pesquisadores mais experientes (ou até com departamentos inteiros) não é uma escolha muito sábia e te impede de aprender uma série de coisas. Essa escolha precisa ser bem feita. Claro que, sempre, na medida do possível. Vivemos na contigência, afinal.


*  *  *

Há muito mais a fazer quando se decide fazer mestrado. Estes três pontos são o início do início. O próximo post (parte II) reflete sobre algumas outras coisinhas.

2 comentários:

  1. Aguardo o próximo post...
    Tô na esperança do mestrado e da academia (ou não)

    Beijim

    ResponderExcluir
  2. Adorei, espero ansiosamente pela parte II. Brigada, beijos.

    ResponderExcluir