sábado, 16 de março de 2013

quem você quer ser?

me lembro de ser adolescente; me lembro duas vezes por semana, às vezes três, quando entro em sala de aula. cada sala tem mais ou menos sessenta carinhas, rostinhos, curiosos, cansados, desajustados, esperando alguma coisa de mim. esperando o quê, exatamente, eu não sei. achei que sabia, mas agora não sei.

enquanto eu falo de marx - ah, marx, que nos deixa tão fascinados na adolescência, sem nem sabermos muito bem o por quê -, ou explico que era contra as cotas raciais quando estudante branca de ensino médio privado na capital-ó-grandiosa-paulicéia-do-estado e que mudei de opinião por meio da sociologia; enquanto falo da ciência e mostro que a sociologia serve (e como serve) até pra quem quer ser engenheiro; enquanto isso, enquanto aquilo;

eu lembro.

lembro que o mundo era só possibilidade, todinho ele. lembro que ainda é, na verdade, só que eu encontrei as possibilidades que eu queria pra mim e decidi, deliberadamente, abandonar as demais. ao menos por enquanto.

lembro de admirar os modernistas, tanto, tanto. lembro de, no início da graduação, achar massa a ideia de conviver com artistas. quem sabe eu mesma poderia ser escritora? o que seria de nós, afinal?

é gostoso agora, anos mais tarde, me descobrir assim; entre amigos e amigas que escrevem, que lidam com arte, com estética, com pensamento, com texto. e descobrir a beleza daqueles que lidam com outras coisas: arquitetura, engenharia, códigos de programação, operação de computadores do tamanho de uma sala.

lembro, olhando meus alunos, que as possibilidades que eu achava tantas não eram nem a quarta parte do que viriam a ser. o mundo é mesmo um troço incrível.

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