sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

medo de plágio

Confessei a vocês no Facebook outro dia: eu tenho medo de plágio. Costumo querer escrever sobre várias coisas aqui no blog e me auto-censuro, pois não quero revelar dados da minha pesquisa, nem pedaços do meu projeto de doutorado, e ver isso vazando nas mãos de gente pouco ética. Nem sempre fui assim.

Antes eu não acreditava muito nisso de plágio nas ciências humanas, afinal o que está em jogo são as análises e as pessoas podem até ter os dados mas não fazerem a mesma análise, etc. Só que. Um dia. Um belo dia. Uma amiga me contou de uma pessoa que plagiava o trabalho dela. Como? Pegando os dados mais preciosos que ela tinha - com muito suor - obtido, suas entrevistas de pesquisa, e colocando em seus papers e trabalhos. As análises também eram pura cópia. Pois então.

Certa vez um outro amigo, da computação, me disse que quando ele conseguia dados e análises legais, ele ia lá e postava no blog dele, assim, público. Eu estranhei, e perguntei 'comoassimBial?'. Ele explicou que, postando em algum lugar público, era mais fácil de ele provar, caso precisasse, que tinha chegado naqueles resultados primeiro. É claro que alguém poderia ver um paper, alterar data, sei lá. Mas ele, que é da computação, achava isso mais seguro.

Eu tenho minhas dúvidas. Realmente plágio é um incômodo grande demais. Você tem o maior trabalho de fazer uma pesquisa cientificamente rigorosa, colher e analisar dados de uma maneira inovadora, e vem alguém tomando teu crédito por isso? Nananinanão. Na carreira acadêmica o maior bem que temos, como pesquisadores, é nosso nome e a trajetória associada a ele. Mesmo que o conhecimento vá ser partilhado, se torna público, dissemine-se, etc. Os créditos serão dados, e isso é o que precisamos. Pelo mesmo motivo tanta gente se sente incomodada quando alguém sai como 'coautor' de artigo sem ter de fato trabalhado na pesquisa que gerou o artigo: não é justo com quem trabalhou. Não é ético, assim como não o é o plágio.

Evidente, há casos de gente que plagia sem saber. Por isso, aviso: citem. Citem. Citem. Sempre. Explicitem suas fontes. Pega muito, mas muito mal se não estiver tudo muito bem explicadinho.

(mas vejam pelo lado bom: estou prestes a defender o mestrado, isso quer dizer que em alguns poucos meses vocês já conhecerão um pouco mais do meu trabalho!)

3 comentários:

  1. Marília,
    como nunca fui uma pessoa de trabalhar com blogues, seria tempo demasiado fazer como o teu amigo da computação - mas ele está certo, é uma das maneiras mais seguras de assegurar a anterioridade e originalidade de certas pesquisas e estar munido de material para derrubar alguma pessoa que tenha optado pelo plágio (algo similar era feito, durante muito tempo, com relação a patentes: as pessoas enviavam um exemplar do trabalho, da partitura, do manuscrito, da fórmula, o que fosse a si próprias pelo correio, porém deixavam o envelope fechado - assim, dispunham de um documento oficial, datado, para poder provar, caso se tornasse necessário, o período da "invenção/criação".

    No que diz respeito ao teu projeto de doutorado, devo dizer que concordo - com a seleção logo mais, é sem a menor dúvida arriscado divulgar qualquer item através de um espaço tão aberto assim. Porém, parece-me que é algo diferente para tua dissertação, em que pontos de vista, tema ou aspectos poderiam ser expostos, óbvio, sempre de maneira muito geral, sem detalhes.

    Boa sorte na reta final, pois, por mais que a defesa na maioria dos casos seja muito mais um rito do que outra coisa, o valor simbólico dos ritos precisa ser levado em consideração.

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  2. Hmmm; é verdade. Eu tinha pensado na defesa, mas na verdade tecnicamente seria quando a dissertação for depositada... É que na defesa meus dados e análises se tornam públicos, pelo menos pra um grupo maior do que eu e minha orientadora... :) Faz sentido?

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  3. Marília,
    é verdade que a defesa é o momento de maior publicização "visível" dos dados - e, quando falamos do acesso efetivo ao trabalho, é o período logo a seguir, tendo em vista a cada vez mais recorrente divulgação online dos trabalhos. Seja como for, uma vez realizado o depósito, você não precisa mais se preocupar quanto ao plágio - ou, ao menos, quanto à possibilidade de provar de quem foi a ideia original. Pode, portanto, falar à vontade e em detalhes acerca do tema, até mesmo ajudando pessoas que eventualmente estejam investigando algo similar, para evitar que elas iniciem uma pesquisa e, depois, descubram que aquilo já foi feito. ;-)

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